quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quando a militância digital se traduzir em reais para a campanha

Sobre a decisão do PT de lançar um site para recolher contribuições de campanha na rede, me ocorreu um artigo que (eu, Azenha) li faz tempo, no Times de Londres:
May 25, 2008

Barack Obama is master of the new Facebook politics [Barack Obama, o mestre da nova política via Facebook]
Andrew Sullivan
Na última terça-feira, quando os resultados [das primárias] em Kentucky e Oregon deram às campanhas de Clinton [Hillary] e Obama resultados para que ambos se sentissem bem, outra estatística piscou na televisão. Em abril a equipe de Obama levantou 31 milhões de dólares em fundos de campanha. Os Clinton conseguiram 20 milhões — e o retrato financeiro para Hillary se tornou ainda pior.
Barack Obama agora tem perto de 38 milhões de dólares em dinheiro nas mãos para o restante da campanha, comparados com 6  milhões de Clinton. E a dívida dela é de 10 milhões, sem contar os 11 milhões que ela emprestou para a própria campanha. As dívidas de Obama são de apenas 2 milhões.
Como isso aconteceu? Os Clinton são os maiores nomes do Partido Democrata. O chefe de campanha deles, Terry McAuliffe, já foi presidente do partido. Em dezembro, quando Clinton era a favorita, ela conseguiu usar aquela vantagem para fazer com que os maiores doadores dessem apoio a ela. Hillary tinha o poder do estrelato e temas de campanha bons para apelar a Hollywood (primeira mulher presidente) e a Nova York (ela era senadora eleita pelo estado).
Só existe uma resposta verdadeira para o sucesso financeiro de Obama: a internet. O que Howard Dean, o candidato prévio à indicação democrata, previu em 2004 — quando levantou 27 milhões de dólares online para a campanha — tornou-se realidade apenas quatro anos depois, com um candidato que está em boa posição para tirar proveito da vantagem oferecida pelo poder da rede e por uma geração que está acostumada a se relacionar, pensar, conversar e se encontrar online.
Foi um dos grandes erros de Clinton quando ela deixou de lado as tentativas de levantar dinheiro no Vale do Silício em favor de áreas mais tradicionais de apoio dos democratas. E ela perdeu um elemento chave da nova política: as redes sociais. Ela ainda estava na AOL; Obama era Facebook. Clinton era o PC; Obama, o Mac.
Como Peter Leyden, do New Politics Institute, um think tank influente da Califórnia, diz: “O que é surpreendente é que Hillary construiu a melhor campanha que já foi feita pelos democratas sobre um modelo antigo — ela levantou mais dinheiro que qualquer um, conseguiu o apoio de todos os líderes partidários, montou um time de estrelas de consultores e assumiu controle de uma organização vertical, de comando-e-controle. E ainda assim ela está sendo derrotada por um iniciante que está usando essencialmente um modo diferente, de nova política”.
O novo modelo realmente começou graças a John McCain. A lei de financiamento de campanha de 2002 acabou com a era de apenas alguns grandes doadores financiando os partidos. A quantia legal máxima para qualquer doação individual se tornou 2 mil dólares em 2004 e 2.300 nesta eleição. E assim a chave para levantar dinheiro foi juntar o maior número possível de amigos e colegas para contribuir o máximo de 2.300 dólares cada.
Foi assim que George W. Bush fez — com seus “pioneiros” e “rangers”: amigos e apoiadores que conseguiam juntar dezenas ou centenas de amigos para contribuir. O meio mais comum era através de encontros em casa, churrascos e “árvores telefônicas”, em geral envolvendo o próprio candidato ou um representante dele.
Mas a equipe de Obama se deu conta de que as redes sociais tornaram essas reuniões físicas redundantes: e também se deu conta de que o ponto de entrada na campanha não deveria ser de 2.300 dólares por pessoa, mas de um décimo disso: 200 dólares. A campanha transformou seu site em uma centro de rede social, com um apelo aos jovens baseado em estratégia viral.
Os 31 milhões de dólares levantados por Obama no mês passado — quase tudo online — se tornam ainda mais impressionantes quando se descobre que 94% vieram de doações de 200 dólares ou menos. Um milhão de pequenos doadores se tornou o modelo.
Um dos homens que Obama contratou para fazer este esforço certamente sabia o que estava fazendo: Chris Hughes é co-fundador do Facebook.
Quando você ouvir Hillary Clinton chamando Obama de elitista, é bom lembrar da enchente de pequenos doadores. A campanha de Obama na verdade tem sido a menos elitista e a mais democrática operação de financiamento na história da política dos Estados Unidos. Ele tem mais de 1,5 milhão de doadores individuais, que aparecem com suas próprias listas de e-mail e de redes sociais. E como a maioria nem chegou perto do valor máximo permitido por lei, Obama não tem apenas uma lista de nomes a agradecer; ele tem uma grande lista para pedir mais. É uma máquina de dinheiro como nenhuma outra.
Joshua Green, cuja reportagem definitiva sobre a estratégia de Obama aparece na edição mais recente da revista The Atlantic, aponta para algo mais: “Durante o mês de fevereiro, por exemplo, a campanha de Obama levantou um recorde de 55 milhões de dólares — 45 milhões na internet — sem que o candidato fosse a um único evento”.
Este é outro grande benefício desse tipo de operação baseada na rede: o desgaste pessoal do candidato é reduzido. Ele pode gastar menos tempo nos jantares do frango-borracha, menos horas implorando por dinheiro ao telefone, menos tempo se envolvendo com gente de caráter duvidoso (lembram-se de quantos problemas Al Gore teve em 2000?) e mais tempo cuidando dos discursos, da política, da mídia.
Os comícios típicos de Obama, com grande número de pessoas, precisam ser vistos neste contexto. Não são apenas formas de atrair a mídia. Todos os que queriam entrar no comício de 75 mil pessoas em Portland, Oregon, no fim de semana passado, tinham de deixar o e-mail na porta.
Assim que chegaram em casa depois do evento, um e-mail estava esperando por eles na caixa de correio, pedindo dinheiro ou referência de outros amigos, encorajando os eleitores a formar “grupos de afinidade” e a ampliar mais e mais a rede.
É uma nova forma de fazer política; deve durar muito além da campanha de Obama e mudar a forma de fazer campanhas no futuro. Para Obama o novo método também amplia a mensagem. Seu liberalismo não é ditado de cima para baixo, da variedade gerencial; é mais em linha com a tradição progressista do auto-empoderamento. Uma rede social é o meio perfeito para isso.
Vi isso com meus próprios olhos. Nesta primavera, muitos amigos que nunca foram interessados em política de repente me falaram sobre o trabalho de financiar Obama. Fiquei chocado pelo ativismo deles. Ninguém havia pedido nada a eles. Eles estavam organizando festas ou performances ou encontros através do Facebook e do MySpace, sem qualquer liderança formal vinda da campanha de Obama.
Assim como os vídeos mais famosos de Obama na rede não foram encomendados pelo candidato — foram criados e disseminados espontaneamente online — assim a campanha para levantar fundos ganhou vida própria. O único outro candidato que inspirou tal energia foi o republicano Ron Paul. Sua mensagem não era muito diferente da de Obama: auto-empoderamento, antiestablishment, pr

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