OS
NOVOS CORONÉIS DA POLÍTICA MINEIRA QUEREM CALAR OS EDUCADORES MINEIROS
Beatriz da
Silva Cerqueira
Professora,
coordenadora-geral do Sind-UTE/MG
Minas
Gerais é realmente um estado de exceções. Por aqui, os poderes da República,
que deveriam zelar pelos interesses públicos, zelam pelos interesses do grupo
político que comanda o Estado.
São
poucos os promotores de justiça que atuam com autonomia e defendem os
interesses da população. O Tribunal de Contas do Estado firmou acordo para que
o Governo tivesse um “prazo” para cumprir a Constituição Federal e investir o
mínimo de 25% de impostos em educação. Lembrando que a Constituição é de 1988 e
o acordo foi firmado em 2012.
A
Assembleia Legislativa, por diversas vezes, abriu mão da sua prerrogativa de
legislar e, a cada início de mandato, outorga ao Governador o direito de fazer
leis, através das leis delegadas. O escândalo do helicóptero de um deputado
estadual e a entrega do Mineirão à iniciativa privada foram ignorados pela
Casa.
O
grande investimento de recursos públicos em campanhas publicitárias e uma mão
de ferro que acompanham o cotidiano das redações impedem que a imprensa mineira
divulgue os problemas que o Estado enfrenta, como também impediu, nos últimos
12 anos, que qualquer crítica à gestão do choque de gestão fosse feita. O
aeroporto em Cláudio existe há muito tempo, mas somente em 2014 a situação se
tornou pública.
E
mesmo o Brasil sabendo o que acontece por aqui, o atual grupo político que
comanda o Estado insiste na política da mordaça. Há anos o Sind-UTE/ MG,
Sindicato que representa os trabalhadores em educação da rede estadual, utiliza
mídia paga para dialogar com a comunidade escolar. A estratégia é necessária em
função do comprometimento da maioria dos donos dos meios de comunicação com o
governo, que não veiculam críticas ao Executivo Estadual. E a exemplo do que
fizemos em 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013, elaboramos este ano, peças para fazer
este diálogo. Por sua vez, a estratégia do Governo do Estado e do seu candidato
à sucessão, foi tentar transformar o debate por uma educação pública, que é o
que o Sindicato faz, numa agenda eleitoral, nos acusando de propaganda
eleitoral negativa. Até o início de setembro foram nove representações contra a
entidade. E, para a vergonha dos mineiros, o Tribunal Regional Eleitoral,
adotou a tese, concordando com a tentativa de calar a categoria durante as
eleições. Como é possível que, no período eleitoral, não se possa questionar,
criticar, dizer sobre as condições da escola pública? Querem nos colocar num
lugar de invisibilidade, anulando o nosso papel de dizer as reais condições em
que se encontram as escolas e seus profissionais. Como fica o debate
democrático, se a população é impedida de conhecer a realidade? É isso que o
Tribunal Regional Eleitoral quer impor aos educadores mineiros: que fiquemos
calados, que não critiquemos, que não demos a nossa opinião. Com essa prática
prevalece a velha política do coronelismo: política é coisa para os
profissionais, não para o trabalhador.
Como
um candidato que não consegue lidar com a crítica, com o pensamento divergente,
quer ser governador? No século XXI é impossível o pensamento hegemônico, o monopólio
da fala e das ideias, não cabe mais o monólogo, o controle do pensamento. Isso
foi enterrado quando Hitler perdeu a 2ª Guerra Mundial. Não podemos permitir o
surgimento de novos tiranos! Por tudo isso e por uma educação de qualidade
persistimos!