Por Raul Pont
A eleição de 2014, formalmente, ainda não começou. A tendência dos debates preliminares, no entanto, é preocupante. Principalmente, nos grandes meios de comunicação. Coordenados pelo Instituto Millenium, financiados por poderosos grupos econômicos, os grandes jornais e suas respectivas redes de rádio e TV, vêm orquestrando as críticas ao governo Dilma de forma preconceituosa e em questões secundárias e irrelevantes, mas que servem para a criação das manchetes e sua reprodução em cascata, em todo o país.
Um exemplo disso foi a coincidente interpretação e apoio para retirar do ar o programa do espaço do PT no rádio e TV. A comparação com o ocorrido em 2002 quando os tucanos puseram no ar a atriz Regina Duarte com o “discurso do medo”, dos riscos que o país corria com a eleição de Lula.
Foi assim, também, com o alarmismo do descontrole inflacionário, com a falsa crise da Petrobras e a Refinaria de Pasadena, sobre os índices do crescimento econômico do país (pibão x pibinho), sem incorporar o quadro internacional ou as relações com as políticas de emprego e renda.
Essa pregação permanente antigoverno e antiPT mantém-se também na repetição do noticiário da ação penal 470 agora em sua fase de execução das penas submetidas ao arbítrio, ao rancor e aos casuísmos do ministro Joaquim Barbosa. Há mais de dez anos a grande mídia destila ódio e preconceito contra o PT, sem nenhuma correspondência com os outros casos de acusações e denúncias sobre membros e dirigentes de outros Partidos. Agora, por exemplo, o vergonhoso engavetamento do voto do ministro Gilmar Mendes no STF sobre a arguição de inconstitucionalidade do financiamento eleitoral por empresas, impedindo um Acórdão já vitorioso pelo voto de outros seis ministros, não recebeu uma linha crítica dessa mídia sempre tão ciosa com a moralidade pública.
Sem o Acórdão, a eleição de 2014 será dominada de novo pelo poder econômico. Em 2010, conforme o TSE, foram 4,1 bilhões de repasse de empreiteiras, bancos e grupos empresariais para candidatos. Isso não é caixa dois, não é corrupção, não é comprometimento dos eleitos com seus financiadores??
Ou seja, o que vale não são fatos objetivos, números concretos, indicadores sociais e econômicos comprovados, vale a versão, o preconceito, a desinformação deliberada e a confusão mentirosa sobre os acontecimentos.
Não há exagero quando Lula afirma que, neste ano, a “esperança terá que vencer o ódio”. Entendo, porém, que nosso maior desafio será o de fazer a “verdade vencer a confusão, a mentira”, pois essa é a política da grande mídia, como “partido” organizador da oposição.
Quanto maior a confusão, mais fácil para diluir o caráter programático das candidaturas e dificultar as diferenças entre os projetos em disputa que são claramente de esquerda e de direita. É evidente o esforço feito pelos candidatos oposicionistas para não falarem em seus verdadeiros objetivos. O desgaste e a falta de sustentação eleitoral para o surrado discurso neoliberal: “choque de gestão”, “déficit zero”, “meritocracia”, “desregulação da economia”, “globalização do mercado”, “diminuição do Estado”, obriga-os a manobras diversionistas, a verdadeiras piruetas programáticas para não assumirem o que efetivamente são: neoliberais convictos.
Às vezes, deixam escapar frases sintomáticas como “os governantes devem ter coragem de proporem medidas impopulares”, ou como dizem seus assessores economistas, “com essa política salarial não haverá investimento privado”.
Em Minas Gerais, um exemplo do “choque de gestão” de Aécio Neves foi, com a cumplicidade da maioria da Assembleia Legislativa, tentar burlar a Constituição, “legalizando” quase cem mil contratos temporários e emergenciais no magistério sem concurso público. Há pouco, perdeu no STF essa aventura administrativa, criando o maior desarranjo na educação pública.
Essas candidaturas oposicionistas por expressarem o pensamento da classe dominante brasileira não conseguem apresentar uma alternativa viável que não seja a regressão ao Estado neoliberal dos tucanos e outros emplumados. Reféns do capital financeiro hegemônico nas elites brasileiras têm apenas a oferecer o receituário FHC ao Brasil e isso é que necessita ser desnudado no meio da confusão criada pela mídia. A denúncia escandalosa e lacerdista que praticam no cotidiano, para gerar uma visão antipartido e antipolítica, esconde, de fato, a corrupção sistêmica que acobertam. A posição contrária ao plebiscito popular, a uma reforma política-eleitoral e, agora, a histeria demonstrada em relação ao decreto da presidenta Dilma sistematizando e fortalecendo os mecanismos de participação social junto ao governo, revelam a ojeriza que possuem diante do protagonismo popular.
Ao contrário, a presidenta Dilma, no seu discurso em homenagem ao Dia do Trabalhador, 1º de maio, afirmou cristalinamente, que seu governo tem lado. É o lado dos trabalhadores da cidade e do campo: “quero reafirmar, antes de tudo, que é com vocês e para vocês que estamos mudando o Brasil.” E segue: “estamos vencendo a luta mais difícil e mais importante: a luta do emprego e do salário”. Esse é um divisor de águas. Isso Aécio e Eduardo Campos não assumem, pois representam outros interesses de classe. A posição da presidenta Dilma ao assumir o lado dos trabalhadores é que lhe permite também assumir radicalmente a reforma política e eleitoral que o Brasil precisa para avançar para outro patamar civilizatório, assim como lhe dá sustentação política e eleitoral para que o país possa levar adiante a integração latinoamericana e a independência e soberania frente aos centros imperialistas mundiais.
As forças que sustentam Aécio Neves há muito tempo abdicaram da soberania nacional e se contentam que sejamos sócios menores e coadjuvantes no quadro internacional.
O programa que a presidenta Dilma representa, com base no emprego e salário, é o que pode fazer esse país continuar crescendo com igualdade e inclusão social, mantendo acesa a chama da esperança, da utopia de uma sociedade igualitária.
Por isso, nossa principal tarefa nessa eleição é restabelecer a verdade contra a confusão e a mentira deliberadas que tentam, assim, retomar o poder governamental.
Publicado originalmente no site http://raulpont.com.br
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